24 julho, 2007

ÚRANO E A LIBERTAÇÃO DO KARMA por Maria Ramagem

Era de aquário! Novo milénio! Novo homem! Nova Era!

Quantos de nós já não nos pegamos entusiasmados com essas ideias, acreditando num futuro melhor, na "esperança é a última que morre", no quão "tarda mas não falha"? Estamos no mês de aquário, sob a regência do planeta Úrano. No ano, é o momento de pensarmos nos novos projectos e nas revoluções necessárias para realizá-los. Para isso será preciso rompermos com os padrões e modelos de vida que não significam mais para nós. Precisamos nos perguntar com sinceridade: "É isso que desejo para mim?", "Vale a pena continuar nesse processo, ou com essa relação?". Só um mergulho no fundo do coração para ouvir as respostas, ouvir a voz interior e entrar em conexão com nosso caminho de evolução pessoal. Na trilha do auto-conhecimento, já se sabe que para chegarmos ao entendimento de nossas questões mais íntimas, para compreendermos o que nos transtorna interiormente, temos de investigar o inconsciente, nosso universo interno carregado de valores, desejos, frustrações e medos.

É exactamente no fundo desse universo, dessa grande memória, que podemos encontrar as razões da alma, os motivos que nos trazem à vida, para que possamos elaborar e realizar nossa evolução espiritual. Considerando esse processo evolutivo como um reciclar dinâmico na matéria, quando a alma, através da transmigração em várias vidas, tem oportunidade de lapidar seus dons e suas dores, conhecer o karma é a cessar a memória mais profunda, é entender a quantidade de informação que se traz, que precisa ser compensada, reciclada e reelaborada, para que se possa fluir na trilha evolutiva. O karma é tanto a dor quanto o dom. O dom é para ser doado e a dor é para ser consciencializada, pois é consequência dos valores que precisamos reformular, dos modelos cristalizados e enrijecidos pelo medo da mudança. Por isso, muitas vezes semeamos nossos próprios sofrimentos, quando não sabemos reagir diferente às situações que se repetem em nossa vida. Para reformular essas reacções é preciso uma releitura dos fatos. Um processo que antecede às conclusões.

Como conseguir ver o mundo sob outra óptica? Na astrologia, o signo de aquário, do aguadeiro que rega com a água da consciência a humanidade, simboliza a igualdade, fraternidade e liberdade. Como tudo na vida só existe na sua polaridade, o signo de aquário só se manifesta na sua magnitude com a energia do signo oposto, leão. Ou seja, só depois que a individualidade, potencial máximo do ser organizado na sua tri-membração mental, emocional e física for estabelecida, que em aquário ele estará pronto para dar, regar, ajudar e afinar-se no colectivo em um só tom. Somente ao afirmar seu "Eu Sou" integro, característica fundamental de leão, que o homem será capaz de conviver aquarianamente, sem posses, sem apegos, sem divisões. Este é o ideal da nova era. Se será ideologia ou utopia depende de nós, dos actos semeados e dos fatos colhidos. Por isso a astrologia é, e será sempre, a grande bússola a orientar a viagem humana. De onde eu vim, e para onde eu vou, ontem, agora e sempre. Como aquário é portanto o símbolo da liberdade, é a era de aquário a era da libertação do karma. Como realizá-la? Com a era de peixes, Cristo instaurou o livre-arbítrio.

Foi a era da religião, do sentimento e da maturação psicológica, consequentemente, da maturação da alma colectiva. Na era de aquário, o "Cristo Interno" será inaugurado nas individualidades. Por isso urge descobrirmos nossos condicionamentos, tirarmos os véus dos modelos kármicos para entrarmos em sintonia com a nova era. Urano, regente de aquário, é o planeta que representa como se manifesta o desejo de liberdade e individualidade de uma pessoa, mostra como ela estabelece sua ligação com o plano mental do universo, como se conecta com as ideias originais e abre sua intuição para compreender a vida e solucionar seus problemas. No mapa astral, Úrano mostra o trabalho e o propósito da alma na encarnação presente e onde está a libertação dos limites kármicos do passado, para que possamos ir além nos processos evolutivos.

Úrano é o único planeta que "liberta karma" porque traz mudança dos ventos, quebra estruturas, rompe e libera o ego das percepções superficiais impostas por Saturno, o tempo, a razão, os necessários limites sociais. Urano abre as brechas para o inconsciente, altera o estado de consciência, forçando a uma releitura da realidade mais sintonizada com a verdade universal. Actuando através do nível mental da personalidade, rompe condicionamentos, capta novos valores e re-elabora os significados e as experiências da vida. Mas cuidado, aceder os motivos inconscientes e liberá-los na personalidade, é uma elaboração que exige equilíbrio com o tempo e as circunstâncias sociais do presente, mas certamente se evidenciará no movimento dos ciclos da vida. É bom lembrar das lições da mitologia. Úrano é um deus primordial, nascente do caos e representa o espaço. É o céu que cobre Géia, a terra fecunda, e com ela tem filhos ininterruptamente.

É a criatividade intensa, a inspiração do universo com a velocidade da luz. Representa a criação sem medida e sem diferenciação, que acaba destruindo o que cria por sua própria energia abundante. Pois Urano deu vida a uma prole de monstros que foram todos rejeitados e devolvido ao útero de Géia. Esse processo só foi interrompido com Saturno, filho de Urano, que castrou o pai para dar limites ao sofrimento da mãe. E a grande moral dessa história, é que das espumas da castração nasceu Vênus, a deusa da beleza. E assim o espaço cede ao tempo um lugar no universo e pelos limites da beleza traçam as formas no movimento contínuo da evolução. E essa é a grande génese do belo e da vida!

Quando tomamos consciência dessa equação tempo e espaço, e que precisamos ser criativos em meio aos limites da realidade, o sentido de transgredir interna ou externamente, da lugar ao transcender e reestruturar as formas vigentes. Aí sim, percebemos e descobrimos que revolucionar e renovar não significa destruir, que romper o karma não é deixar de ser, mas passar a ser. Pois "o belo", o ideal da evolução, toma forma muito mais harmoniosamente quando o novo vem como decorrência do antigo. Precisamos seguir rumo ao futuro, rumo à evolução. As ideias não param, o tempo não para. Precisamos renascer das espumas da castração, dos limites do karma, os velhos modelos, como Vênus maravilhosa das espumas do mar. E este é o desafio! Cortar em nós o falo falido, o poder degenerado dos hábitos viciados e mofados. Ou será que vamos esperar que os raios do céu, os trânsitos de Úrano, caíram em nossas cabeças para nos forçar as mudanças? Está chegada a hora! A era de aquário espera-nos. Vamos agir!

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